Todo o ódio da vingança de George Klempton
Era uma tarde de fúria para George Klempton; acabara de comprar uma pistola na loja do amigo de seu pai, e o tambor carregava exatas três balas, as quais sabia que tirariam a vida do maldito Raphael Bonfort. A arma pesava em sua mão, sentia orgulho de si pois sabia que após o ato se tornaria um homem, um superior, tendo o grande antagonista sob a sola de sua bota. Toda a raiva e todo o ódio que acumulara em seu coração por todos estes anos, provindos das tiranas ameaças de Bonfort à sua querida mãe, esvair-se-iam em três balas de chumbo.
A primeira iria em seu abdome, pois queria vê-lo sofrer. A segunda no peito, para dificultar-lhe a respiração; queria vê-lo cuspir o pútrido sangue. A terceira, certeira na cabeça, mandaria o bastardo para o inferno. Então cuspiria em sua face e o deixaria lá apodrecendo sozinho, pois tanto ele, George Klempton, quanto todo o resto do vilarejo adoraria ver o amaldiçoado cadáver daquele monstro sufocar-se na terra, sem chance de escapada. E assim ele foi, por sua vingança e por seus amados amigos e parentes. Ajeitou o chapéu que herdara de seu querido pai, o antigo xerife, abotoou a todos os botões e pôs a arma carregada na cinta.
***
Raphael Bonfort bebia, sentado à mesa do bar. De conjunto, dois de seus comparsas. O porte de Bonfort era claramente bem mais construído que o de Klempton —, pareciam David e Goliath das histórias que o padre contava. Todos olharam para ele quando passou pela porta-dupla e sentou-se ao balcão para alguma dose; de certa maneira, seu ímpeto se foi em parte e sentiu fraqueza, mas depois de algumas doses de Whisky, recobrou consciência de seu objetivo e caminhou, a passos curtos e pesados, até Raphael Bonfort, batendo o copo na mesa com um oco som que calou a todos os presentes. Com olhar de desgosto, Bonfort se virou a Klempton. “O que há garoto?”, perguntou a voz de extremo grave. “Convido-lhe a um duelo, seu bastardo. Aqui, e agora!” Exclamou Klempton.
Bonfort sabia que já havia vencido o duelo. Quem diabos era aquela criança, afinal? O mataria por sua ousadia e levaria seu escalpo de presente para a mãe. Saíram do bar os duelistas e uns poucos curiosos. Pararam ali, um de frente para o outro; Klempton tentava ao máximo mascarar seu nervosismo perante a postura e os modos grosseiros de Bonfort, que mascava fumo e estava preparado para cuspi-lo em seu rosto. O dono do bar resolveu organizar o duelo. “Dez passos para a frente, virem, atirem.” Concordaram os dois e viraram as costas.
Os passos ecoaram, rebatendo nas ripas de madeira que sustentavam os estabelecimentos ao redor. Um. Dois. Três. Quatro. Mas no quinto ouviu-se mais que um passo. Klempton virara para seu inimigo que, antes que pudesse tornar a uma olhadela, recebeu um tiro de raspão na perna. George Klempton liberou as outras duas balas em sequência, mas não atingiram ninguém, e saiu correndo dali em direção a sua casa.
Bonfort entrou no bar e derramou meia garrafa de bebida no ferimento, mandou seus comparsas arrancarem a cabeça do covarde e lá foram eles. A mãe de Klempton era uma famosa costureira na vila, e vivia numa pequena casa com seu filho, à espera do marido, desde o quarto mês de gravidez. Foram quatorze anos de infelicidade, passando dia após o outro a costurar e fitar o céu vendo o tempo passar, até o momento em que George Klempton atravessa a porta chorando e clamando por perdão; antes que pudesse indagar a razão, a porta cai com um estrondo dando visão de Herbert Madhorse, comparsa de Bonfort. O garoto corre para seu quarto enquanto escuta os tiros sendo disparados. Sua mãe morre às 11:37 de um sábado desgraçado, enquanto ele chora debaixo da cama e espera a chegada de sua hora.
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